Salvador é uma cidade de topografia singular e possui um acervo histórico monumental, a maior cidade negra da américa latina. Meu interesse por ela é antigo. O olhar para a cidade, a Baia de Todos os Santos e a nossa história sempre estiveram presentes em minha formação. Desde os tempos das experiências fotográficas no laboratório do Colégio Antônio Vieira, quando comecei a me aproximar de fotos antigas de Salvador, passando pelo trabalho de geoprocessamento desenvolvido na Prodasal (antigo nome da empresa de processamento da PMS), ao trabalho em andamento de recuperação de panoramas e cenas antigas, através da reunião de fotos e pinturas com tecnologias digitais, embasadas em intensa pesquisa.

A história que resulta no filme aqui apresentado, intitulado Retratos de um Tempo, é fruto disso. O encontro com os livros Album de Vues du Brésil, de autoria do Barão do Rio Branco e o de Diógenes Rebouças Salvador da Bahia de Todos os Santos no Século XIX foi fundamental. Esse encontro, aliado ao conhecimento de arquitetura e tecnologias na área de informática me impulsionou a conceber e formatar um projeto no qual esses temas fossem resgatados, possibilitando que as informações visuais sobre a cidade e seus vários estágios de transformações fossem atualizadas e acessíveis a muitas pessoas.  Não me refiro apenas ao conhecimento acadêmico, mas ao conhecimento que a tecnologia pode proporcionar através da observação e apropriação histórica de detalhes perdidos no tempo, tanto por habitantes, quanto de turistas.

Logo no início do Projeto Retratos de um Tempo e, em conversas com o poeta e historiador Antonio Risério, as ideias foram tomando forma e nos inscrevemos para o Prêmio Odebretch de Pesquisa Histórica, aliando minhas imagens ao seu texto.  Em 2006, após a conclusão das primeiras imagens, conseguimos financiamento para realizar uma exposição no Museu de Arte Moderna da Bahia – MAM, com alguns painéis e cinco filmes: Um novo olhar sobre a Cidade da Bahia; A Construção da Capital de um Novo Mundo; Uma Cidade a Cavaleiro do Atlântico Sul; Negros, Negócios e Preces na Linha da Praia; Narrativa do Mar da Bahia. Durante aproximadamente três meses, visitantes e grupos escolares de Salvador visitaram essa exposição. Foi muito bom…

O aprendizado se intensificou e entusiasmo tomou conta. Refiz todas as imagens iniciais em maiores dimensões e acrescentei novas imagens: o Mercado Modelo Praia de Saveiros; o panorama de Salvador vista do Forte São Marcelo no início do século XX, tendo como suporte a foto de Gonsalves, cuja dimensão alcança até 20 metros de comprimento com resolução fotográfica e está em exposição permanente no edifício sede da antiga Odebretch. Atualmente, estou finalizando a imagem de Salvador nos anos 1880, fotografada por Gaensly, com a mesma dimensão.

Grandes parceiros contribuíram para esse projeto: na pintura, o mestre das cores e formas Henrique Passos e Leonel Brayner; os historiadores Antônio Risério e Francisco Sena e os colecionadores Ubaldo Senna e Ewald Hackler, que cederam fotos e ajudaram nas pesquisas.

Muitas possibilidades se abrem com o Projeto Retratos de um Tempo: filmes, imagens em azulejos para espaços públicos, museus interativos que podem contar a construção da cidade e também ser associadas com a história dos seus bairros e ruas, etc. Esse material também possibilita mostrar como era a cidade e costumes no século XVIII e XIX e já participou de duas exposições realizadas em São Paulo, no Museu AfroBrasil sobre a Bahia, a convite de seu curador Emanoel Araújo.

Uma cidade redescoberta ajuda a redescobrir o Brasil. A cidade que começou a existir para que o Brasil existisse. E, é justamente isto o que estamos fazendo, com o recurso de novas tecnologias.